domingo, 3 de fevereiro de 2013

ECOSSOCIALISMO

Metamorfose das esquerdas brasileiras para sobreviverem ao colapso soviético
  • Matéria com o texto histórico que registra  o debate sobre o ecossocialismo na ECO-92, o qual foi divulgado em dezembro de 1992 e publicado na Revista de Cultura e Atualidades “Catolicismo” – É o primeiro texto critico ao Ecossocialismo (1992)
Com a crise do comunismo na Rússia, os esquerdistas tupiniquins entraram em pânico e perderam o rumo estratégico. Mas agora –– a exemplo de seus congêneres pelo mundo afora –– encontraram um novo disfarce: a ecologia, conforme depoimentos colhidos na Eco-92. A Eco-92, Conferência sobre o Meio Ambiente promovida pela ONU, no Rio de Janeiro, em meados de 1992, foi um palco privilegiado para se ver em ação também os flamantes ecologistas revolucionários brasileiros.

O Partido dos Trabalhadores (PT), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) , “teólogos da libertação” como Leonardo Boff, Frei Betto, etc., todos estavam ali, ostentando sua “nova face” –– verde, a cor dos ecologistas.

- PT: “eco-socialismo”
Na luta pela sobrevivência, o PT já conta com uma nova corrente denominada “eco-socialista”. Seus integrantes mostraram-se muito ativos durante a mencionada conferência, e explicavam que obtiveram sua “carteira de cidadania” no Partido por ocasião do “Iº Encontro Nacional dos Ecologistas do PT”, realizado em agosto de 1991. Nessa oportunidade, foi aprovada uma declaração de “Princípios básicos para uma sociedade eco-socialista”, o chamado “Manifesto eco-socialista”. - (primeiro texto publicado sobre o ecossocialismo)

 No referido documento, os ecologistas revolucionários do PT analisam a queda do comunismo soviético e propõem uma “nova visão do mundo”, “eco-socialista e libertária”, a partir da qual se deverá “reformular” a “utopia transformadora” revolucionária. Assim, com esse palavreado todo, o “verde” dos ecologistas do PT mal dissimula o “vermelho” dos clássicos slogans marxistas: fortes ataques à propriedade privada e proposta de implantação de Reformas Agrária e Urbana radicais.

Luíza Erundina, prefeita de São Paulo e importante figura do PT, já compreendeu as vantagens estratégicas de assumir a “bandeira ecológica”. Ela passeou pela Eco-92 e afirmou categoricamente que “o Partido dos Trabalhadores hoje assume integralmente a bandeira ecológica”, porque “sem dúvida nenhuma” esta favorece a causa socialista.

- PT: organismo de fachada verde
Membros da corrente socialista-ecológica do PT aderiram a movimentos ecológicos brasileiros. Tal é o caso, por exemplo, do sociólogo Maurício Waldmann, representante de São Paulo na subsecretaria dos ecologistas do PT e defensor de uma “eco-teologia” inspirada em escritos de Leonardo Boff. - Waldmann, que foi coordenador de meio ambiente da Prefeitura de São Bernardo do Campo, na administração petista, fez declarações ecologistas revolucionárias em nome de um autodenominado “Comitê de Apoio aos Povos da Floresta”.

Maurício Laxe, ativo militante do PT de Pernambuco e um dos pioneiros do eco-socialismo no Brasil, participou da conferência da Rio-92 como dirigente da chamada Associação Pernambucana de Defesa do Meio Ambiente –– ASPAN, (uma das primeiras entidades ecológicas brasileiras) . Laxe manifestou abertamente nessa ocasião sua esperança de que o movimento ecológico sirva para superar a atual crise do socialismo: “A grande chance do socialismo é que, através da ecologia, se demonstre as contradições do capitalismo”.

- A CUT: ecologia “libertadora”
 A CUT, a desgastada central sindicalista ligada ao PT, de tendência marxista, também decidiu entrar de cheio na “luta eco-libertadora”, manifestando no Rio sua adesão à “perspectiva eco-socialista” e propondo a execução, em nível internacional, de um “Plano de Ação eco-libertador” incluindo uma radical “transformação da ordem social vigente”. Para ajudar a vencer resistências ao referido plano, a CUT apóia até mesmo a criação de “tribunais populares”.

Jair Meneguelli, presidente da entidade, esteve presente no evento do Rio e foi um dos organizadores da marcha “Eco dos Oprimidos”, da qual participaram militantes de partidos e movimentos de esquerda, representantes de numerosas organizações não-governamentais (ONGs)*, e inclusive dos movimentos de homossexuais e eco-socialista.

- A “Eco [teo]logia da libertação
Importantes figuras da “teologia da libertação” vêm apostando forte na “carta ecológica”. Por esta via, os “teólogos da libertação” tentam reciclar suas propostas revolucionárias, tão desprestigiadas depois da queda do comunismo na Europa, cujas supostas “conquistas” em matéria de justiça social eles tanto elogiaram.

O ex-religioso franciscano e figura chave dentro da “esquerda católica”, Leonardo Boff, teve ativa participação na conferência do Rio e lançou, no ano passado, um livro intitulado “Ecologia da libertação”. Boff manifestou a esperança de que, a partir do referido evento, “se reforce “um movimento eco-revolucionário" que já está em curso, e “que obtenha pressões cada vez mais fortes sobre os governos”.

O religioso dominicano Frei Betto –– vedete publicitária da “esquerda católica” do Brasil –– também esteve na Eco-92. A partir de sua nova perspectiva eco-revolucionária, manifestou a esperança de que, em nível mundial, o verde ecológico possa trazer inclusive “mais problemas que o vermelho” para o “imperalismo” norte-americano. Na ocasião, empenhou-se em organizar uma homenagem a seu amigo, o ditador Fidei Castro, juntamente com Leonardo Boff, o senador Darcy Ribeiro, o arquiteto comunista Oscar Niemeyer e o presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Barbosa Lima.

- “A moda da ecologia veio nos ajudar”
A cúpula da Comissão Pastoral da Terra (CPT) –– ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e conhecida por incentivar conflitos de terras –– esteve presente à Eco-92. Seus representantes propuseram uma nova ética “ecológico-teológica”, que inclui a efetivação de uma Reforma Agrária radical, como “condição fundamental” para resolver os problemas brasileiros. - Em uma sessão sobre os “500 anos de invasão [sic] da América”, o Pe. Jerônimo Nunes, membro da CPT, afirmou: A moda da ecologia veio nos [aos da CPT] ajudar”.

- A Aliança "teologia da libertação"- ecologia
Outro sacerdote franciscano, o Pe. Rodrigo Péret, da “Equipe de Animação Pastoral e Social no Meio Rural”, explicou na Eco-92 como foi possível à “teologia da libertação” adaptar seu discurso ao tema ecológico: “A resposta se encontra nos próprios fundamentos da teologia da libertação.

Ela é ato segundo; o momento primeiro é a praxis. Portanto, à medida em que a sociedade vai tomando consciência da transformação através da questão ambiental a teologia da libertação vai assumindo isso. “A teologia da libertação não é uma teologia que define o seu objeto atrás de uma mesa, mas Sim um movimento social. E aí, nesse momento, existe um encontro muito grande, uma colaboração enorme que a teologia da libertação pode trazer” ao movimento ecológico”. O atual “new-Iook” das forças socialistas em geral, e da brasileira em particular, é a ecologia. É preciso, pois, assumir uma atitude crítica face à propaganda ecológica, e ver no que ela favorece ou não à esquerda. O presente artigo pretende ser apenas uma colaboração nesse sentido.

* ONGs - Organizações Não-Governamentais - são entidades privadas, reconhecidas pela ONU, que procuram representar diversos setores da sociedade civil. É tendência majoritária entre elas colocar-se numa posição de contestação, ora mais, ora menos explícita, ao sistema político-social e econômico em vigor no Ocidente.

Uma organização não-governamental (ONG) chamada “Família Franciscana”
 A Ordem Franciscana, que se constituiu numa organização não-governamental (ONG) sob a denominação de “Família Franciscana”, teve também importante atuação esquerdista na Eco-92. Em entrevista à imprensa, assistida pelo Superior da Ordem, Frei Hermann Schalück OFM, os franciscanos propuseram uma “nova eco-teologia” como complemento harmonioso da “teologia da libertação”.

O secretário-executivo do Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia do Brasil, Pe. José Alamiro Andrade Silva, reivindicou, em nome da Ordem, a liberdade do sacerdote franciscano Antonio Puigjané “e seus companheiros presos na Argentina”. Mas sem mencionar os comprometedores pormenores de sua detenção: a tentativa, em 1990, de assaltar à mão armada um quartel do Exército em La Tablada, localidade da Província de Buenos Aires. - O Pe. Puigjané, embora na prisão em virtude daquele grave delito, foi eleito delegado da “Família Franciscana” ante a Eco-92. “Prêmio” análogo recebeu o ex-religioso Leonardo Boff.

- Irmã Eunice: “Creio no eco-socialismo
 A religiosa franciscana Eunice Berri, do Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia do Brasil, declarou categoricamente na Eco-92: “Eu creio no eco-socialismo”. A Irmã Berri narrou as dificuldades encontradas num primeiro momento em entidades esquerdistas, como o Movimento dos Sem-terra e a Pastoral da Terra, para compreender as vantagens de assumir a bandeira ecológica: “Foi difícil a muitos do movimento popular compreender. Olhavam para mim, e diziam: ‘Mas ecologia? A sra. agora está se comprometendo com o outro lado?’”

 A religiosa chegou a colocar Marx como pioneiro da temática ecológica: “Eu creio que há uma forma de respeitar todas as criaturas, e isso dentro do socialismo. Porque Marx escreveu tudo isto. Não usou a palavra ‘ecologia’, mas sua posição diante de todas as coisas, de todas as pessoas, tem frases fundamentais para a ecologia hoje”.

 - As esquerdas brasileiras se infiltram nas ONGs
 A existência de organizações não-governamentais (ONGs), cujo âmbito de ação vai desde a defesa do meio ambiente até a promoção de atividades educacionais, não, teria, de si, nada de censurável. O problema é que no Brasil as esquerdas não perderam tempo, e realizaram bem-sucedidos esforços para articulá-las em seu proveito. Hoje, diversos elementos esquerdistas controlam a direção do denominado “Forum Nacional de ONGs”, que contaria com cerca de 1.500 entidades filiadas em todo o Brasil.

Esse controle do “Forum das ONGs” deu-se em meados de 1991, quando foi eleita uma Coordenadoria Nacional, integrada por 26 ONGs. Delas, pelo menos 11 são notoriamente esquerdistas. As mencionadas ONGs esquerdistas atuaram habilmente no seio dessa Coordenadoria com o objetivo de nomear uma Secretaria Executiva composta por sete ONGs, quatro das quais são ostensivamente dominadas pela esquerda radical. Citemos a CUT, vinculada ao PT; o Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI), que mantém liames com o protestante e esquerdista Conselho Mundial das Igrejas; e o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), uma espécie de “reservatório de pensamento” esquerdista.

O IBASE opera também como banco de dados e de conexão com redes de ONGs eco-revolucionárias em nível internacional, através da rede eletrônica Nodo Alternex, instalada como apoio ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e de Cooperazione e Sviluppo (CESVI), da Itália. Dessa maneira, por hábeis jogos de eleições indiretas, setores da esquerda brasileira se apoderaram do timão do movimento das ONGs no Brasil.

A constatação acima não deve ser subestimada. A revista “Veja”, em artigo intitulado “Guerreiros do Verde”, chegou a afirmar: “As entidades ecológicas brasileiras já formam um exército respeitável, capaz de eleger deputados e de jogar populações inteiras contra ou a favor de alguma coisa”.

Texto: Gonçalo Guimarães
Reprodução do registro eletrônico do site: - http://www.catolicismo.com.br/materia - Dezembro1992

• Bibliografia:
• - "Debate", suplemento do jornal "Contexto Pastoral," nº 3, Centro Evangélico Brasileiro de Estudos Pastorais––Cebep e Centro Ecumênico de Documentação e Informação –– Cedi, Rio de Janeiro, agosto/setembro de 1991.
• - “Aconteceu”, suplemento do nº 575, Centro Ecumênico de Documentação e Informação –– Cedi, Rio de Janeiro, setembro de 1991. • - “Justiça social e preservação do ambiente”, Comissão Pastoral da Terra, Edições Loyola, São Paulo, 1992.
 • - “O que é o IBASE”, Rio de Janeiro, 1992. • - Boletim nº 3 do Secretariado de Justiça e Paz da Conferência Franciscana Bolivariana, Cochabamba, Bolívia, janeiro/março de 1992.
• - “Sindicalismo e Meio Ambiente”, Central Única dos Trabalhadores (CUT), São Paulo, maio de 1992. • - Programa da Vigília Ecumênica Permanente durante a Eco-92, Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia do Brasil, Rio deJaneiro,junho de 1992.
• - “O ECO dos Oprimidos pela Vida!”, folheto editado pela CUT, Forum das ONGS, Forum da Reforma Urbana, etc. –– Comunicado de imprensa nº 211 do Forum Global, Rio de Janeiro, 10 dejunho de 1992.
 • - “Granma Internacional”, Havana, 21 de junho de 1992.
 • - Fitas magnéticas pertencentes à Agência Boa Imprensa––ABIM, comprobatórias de declarações constantes do presente artigo, colhidas durante a Eco-92.