domingo, 3 de março de 2013

Aumento de 1,5º C na temperatura já é suficiente para iniciar o derretimento do permafrost na Sibéria
Publicado em março, 03 , 2013
 Um aumento da temperatura global de 1,5º C seria suficiente para iniciar o derretimento do permafrost na Sibéria, alertaram os cientistas na última quinta-feira. Qualquer degelo generalizado no solo permanentemente congelado da Sibéria poderia ter severas consequências para as mudanças climáticas. O permafrost cobre cerca de 24% da superfície terrestre do hemisfério Norte, e um derretimento generalizado poderia, no fim, provocar a liberação de centenas de gigatoneladas de dióxido de carbono e metano, o que teria um maciço efeito de aquecimento.
No entanto, qualquer degelo desse tipo provavelmente levaria muitas décadas, razão pela qual a liberação inicial de gases do efeito estufa provavelmente seria em uma escala muito menor. Os pesquisadores, liderados por especialistas da Universidade de Oxford, estudaram estalactites e estalagmites em cavernas da Sibéria que se formaram ao longo de centenas de milhares de anos. As estalactites e estalagmites se formaram durante períodos de degelo gradual, quando a água derretida escorria para dentro as cavernas, mas pararam de crescer quando as temperaturas caíram novamente, e o permafrost congelou novamente. Os cientistas podem medir o crescimento e a suspensão do crescimento das estalactites e estalagmites cortando as estruturas em vários pontos correspondentes a dados períodos de tempo da história da Terra.
Eles descobriram que as estalactites em uma distante caverna do norte, na fronteira de um permafrost contínuo, cresceram durante um período de 400 mil anos atrás, quando as temperaturas eram 1,5º C mais altas do que em tempos pré-industriais. Isso indica que o permafrost estava derretendo à época e que, portanto, poderia descongelar novamente se as temperaturas subirem a níveis semelhantes.
“Seria possível ver o permafrost contínuo começar a derreter ao longo das fronteiras nesse limiar de 1,5º C [no futuro]“, disse Anton Vaks, do departamento de ciências da Terra da Universidade de Oxford, que liderou a pesquisa. As temperaturas na região eram de 0,5-1º C mais altas do que nos tempos modernos durante um período de cerca de 120 mil anos atrás, e naquele tempo as estalactites nas cavernas mais ao sul, perto do Lago Baikal, mostravam sinais de crescimento e, portanto, de degelo.
Mas, nesse mesmo período, as estalactites da caverna mais ao norte – chamada de caverna Ledyanaya Lenskaya, perto da cidade de Lensk, na latitude 60N – não cresceram, mostrando que o permafrost permaneceu intacto a essas temperaturas. “Isso indica que 1,5º C parece ser algo como um ponto de inflexão”, disse Vaks.
Atualmente, as temperaturas médias globais estão cerca de 0.6C-0.7º C acima dos níveis pré-industriais. Isso significa, de acordo com Vaks, que os modeladores climáticos deveriam incluir a possibilidade de o permafrost começar a derreter nos seus modelos. A equipe de cientistas, da Mongólia, da Rússia, da Suíça e do Reino Unido, usou técnicas de datação radiométrica das formações cavernosas. Eles relatam os resultados em um artigo na revista Science Express, publicado na quinta-feira.
Vaks disse que as descobertas podem ter implicações graves para a região, já que o derretimento do permafrost poderia afetar a exploração de gás natural e os dutos, assim como outras infraestruturas. Ele também poderia ter efeitos de maior alcance. “Embora não tenha sido o foco principal da nossa pesquisa, o nosso trabalho também sugere que, em um mundo 1,5º C mais quente – quente o suficiente para derreter o permafrost mais frio –, as regiões adjacentes veriam mudanças significativas. O Deserto de Gobi, na Mongólia, poderia se tornar muito mais úmido do que hoje, e essa área extremamente árida poderia chegar a se assemelhar aos atuais estepes asiáticos”.
Ele disse que são necessárias mais pesquisas para estabelecer a velocidade e a escala de degelo prováveis enquanto as temperaturas aumentam.
(Permafrost, é o solo congelado que cobre um quarto do Hemisfério Norte)
A reportagem é de Fiona Harvey, publicada no sítio do jornal The Guardian, 21-02-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto. Foi publicado pela IHU On-line, parceira estratégica do EcoDebate na socialização da informação. (Ecodebate, 25/02/2013). - [IHU On-line é uma publicação do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.] -  Matéria republicada pelo site ECOSBRASUL em março de 2013.
Pesquisa comprova que Aquecimento Global perturba correntes de ar e gera fenômenos climáticos extremos.
Publicado em março, 03, 2013
        Especialistas em clima determinaram que o aquecimento global está provocando fenômenos meteorológicos extremos – como secas, ondas de calor e frio – ao perturbar as correntes atmosféricas que circulam no hemisfério Norte. Uma pesquisa [Quasi-resonant amplification of planetary waves and recent Northern Hemisphere weather extremes] revela que os devastadores fenômenos são consequência de uma mesma perturbação nas correntes atmosféricas que circulam sobre o hemisfério Norte do planeta, afetadas pelo aquecimento derivado das emissões de gases do efeito estufa decorrentes de atividades humanas.
“Uma parte importante da circulação do ar nas latitudes médias da Terra assume habitualmente a forma de ondas que se deslocam em torno do globo, oscilando entre as regiões tropicais e árticas”, explica o principal autor do estudo, Vladimir Petukhov, do Instituto de Pesquisa do Impacto do Clima Potsdam (PIK), na Alemanha.
“Quando estas ondas oscilam para cima aspiram o ar quente dos trópicos para Europa, Rússia ou Estados Unidos e, quando se movem para baixo, produzem o mesmo fenômeno, mas com as massas de ar frio do Ártico”, revela o estudo publicado no Pnas (Anais da Academia de Ciências dos Estados Unidos). “Descobrimos que, durante vários destes fenômenos meteorológicos extremos recentes, estas ondas atmosféricas permaneceram fixas ao longo de várias semanas”.
O aquecimento não é uniforme e varia segundo as regiões do planeta. Na Antártida, a elevação das temperaturas se vê amplificada pela perda de neve e gelo, destaca Petukhov. Isto reduz as diferenças térmicas entre a região ártica e a Europa, por exemplo, o que afeta a circulação do ar em torno do globo, cujo principal motor é a diferença de temperaturas. Por outro lado, os continentes se aquecem e se esfriam mais rapidamente que os oceanos, o que contribui para a paralisação das ondas de ar.
“Estes dois fatores são cruciais para o mecanismo que detectamos, o que provoca períodos prolongados de calor ou de frio”, assinala. Dois ou três dias seguidos com temperaturas de 30 graus não são um problema, mas 20 dias ou mais geram um estresse importante em muitos ecossistemas e aglomerações urbanas que não estão habituados a ondas prolongadas de calor.
 Matéria original da AFP e do UOL Notícias - Texto de Petoukhov, V., Rahmstorf, S., Petri, S., Schellnhuber, H. J. (2013): Quasi-resonant amplification of planetary waves and recent Northern Hemisphere weather extremes. - Proceedings of the National Academy of Sciences (Early Edition) – Matéria Republicada pelos sites: EcoDebate, em 28/02/2013 e ECOSBRASIL em 03/03/2013.

sábado, 2 de março de 2013

Estudo mostra que redução de insetos polinizadores
ameaça cultivos do mundo
Publicação março 1, 2013
            A diminuição da população de insetos polinizadores silvestres, devido à perda de seu hábitat pelo aquecimento global ameaça a produção agrícola mundial, advertiu esta quinta-feira um estudo [Wild Pollinators Enhance Fruit Set of Crops Regardless of Honey Bee Abundance] internacional publicado nos Estados Unidos. Os 50 cientistas que participaram do trabalho analisaram dados provenientes de 600 campos de cultivos de frutas, café ou diferentes tipos de frutas secas em 20 países.

Eles comprovaram que as abelhas domésticas não são polinizadoras tão eficazes quanto outros insetos na natureza, sobretudo como as abelhas silvestres. A queda contínua no número destes insetos desperta o temor de consequências nefastas para as colheitas e torna necessário manter e gerir a diversidade destes polinizadores para aumentar a produção agrícola a longo prazo, insistem os autores em um estudo publicado na edição desta quinta-feira da revista científica Science.
“Nosso estudo demonstra que a produção de um grande número de frutas e de grãos que permitem a variedade da alimentação está limitado porque suas flores não são suficientemente polinizadas”, afirmou Lawrence Harder, professor de biologia da Universidade de Calgary, no Canadá, um dos co-autores do estudo. “Observamos que o fato de trazer mais abelhas domésticas a estas zonas de cultivo não era suficiente para solucionar o problema, que requer um crescimento no número de insetos polinizadores silvestres”, acrescentou.
As flores da maior parte dos cultivos devem receber o pólen antes de produzir grãos e frutos, um processo amplificado pelo trabalho dos insetos. Estes polinizadores silvestres, como as abelhas, as moscas e os besouros, vivem geralmente em hábitats naturais ou seminaturais, como florestas, cercas vivas ou pradarias que são cada vez menos habituais, devido à sua conversão em terrenos agrícolas.
“Paradoxalmente a maior parte dos enfoques para aumentar a eficácia da agricultura como o cultivo de todas as terras disponíveis e o uso de pesticidas, reduz a abundância e a variedade de insetos polinizadores que poderiam aumentar a produção destes cultivos”, explica o biólogo.
Os autores deste estudo destacam a importância de por em andamento novas tentativas de integrar a gestão das abelhas domésticas e os polinizadores silvestres com uma maior preservação de seu hábitat. Destacam, ainda, que o rendimento agrícola mundial seria aumentado, permitindo aumentar a produção agrícola a longo prazo.
Obs: Matéria republicada pelo Blog ECOSBRASIL, reproduzida inicialmente no Brasil pelo site ECODEBATE. Fonte: Published Online February 28 2013 Science DOI: 10.1126/science.1230200 - Wild Pollinators Enhance Fruit Set of Crops Regardless of Honey Bee Abundance . - Matéria original da AFP, no UOL Notícias, com informações adicionais do EcoDebate.
TCU fará auditoria na Anvisa para avaliar processo de liberação de agrotóxicos
O Tribunal de Contas da União (TCU) fará auditoria na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com objetivo de avaliar os procedimentos de controle adotados na liberação da comercialização de agrotóxicos no Brasil. A decisão atende solicitação da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do Congresso Nacional.
De acordo com o requerimento encaminhado pelo Congresso, o pedido de auditoria teve como base denúncias de um ex-gerente da Anvisa de que “pelo menos sete produtos teriam sido liberados sem a devida avaliação toxicológica, mediante falsificação de assinatura. Além disso, teria sido constatado o desaparecimento de processos em situação irregular”. Os agrotóxicos seriam usados para combater a ferrugem da soja e, segundo o requerimento, “estariam ligados a interesses do agronegócio brasileiro.”
A auditoria se concentrará em avaliar a efetividade dos procedimentos de controle adotados para emissão do Informe de Avaliação Toxicológica (IAT). O informe é um dos requisitos para que um agrotóxico possa ser comercializado no Brasil.
Em seu voto, o relator do processo, ministro Walton Alencar Rodrigues, utilizou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados em 2012, que mostram que o agricultor brasileiro usa, em média, 3,6 quilos de agrotóxicos por hectare. O Brasil é ainda o maior consumidor de agrotóxicos do Mundo.
O Ministro Alencar lembrou ainda dos riscos que os agrotóxicos representam para a saúde pública. Segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), doenças causadas por tais substâncias são responsáveis por 63% das 57 milhões de mortes declaradas no mundo em 2008, e por 45,9% do volume global de doenças.”
O relatório do programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos de Alimentos, da Anvisa, publicado em 2011, destaca que as doenças crônicas não transmissíveis, que têm os agrotóxicos entre seus causadores, são um problema mundial de saúde pública. De acordo com o relatório, no Brasil, essas doenças causaram mais de 893 mil mortes em 2008.
Edição: Aécio Amado
Reprodução de reportagem de Luciano Nascimento, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, em 01/03/2013.