quarta-feira, 28 de maio de 2014

Deputado Federal Fernando Ferro faz pronunciamento sobre # Ocupem Estelita



O Impasse e a Luta pelo Cais Jose Estelita

Pronunciamento no Congresso Nacional do Deputado Fernando Ferro 
Senhor Presidente
Senhoras e Senhores Deputados

Quero registrar nesta Tribuna minhas preocupações com os últimos acontecimentos e graves denuncias, que vem ocorrendo em Pernambuco, mais precisamente na cidade do Recife, em relação a polemica que envolve um Empreendimento Imobiliário no mínimo estranho, denominado pelas empresas construtoras envolvidas de “Novo Recife” e parte da população do Recife, que protesta contra a construção de edificações anunciadas por estas mesmas empresas.

O fato é que centenas de manifestantes ocupam a mais de uma semana, a área do Pátio Ferroviário do Recife, situado no Cais José Estelita, ao lado da Bacia do Pina, para tentar impedir que as Construtoras Moura Dubeux e Queiroz Galvão, a frente do Consorcio Novo Recife, concluam a demolição de antigos imóveis e famosos galpões e armazéns, que por anos foram uma das marcas coloridas da paisagem do Recife, compondo um belo conjunto arquitetônico, junto a esta área neste mesmo antigo Cais. 

Tal acontecimento ocorreu por que nesta mesma região, estas Construtoras haviam iniciado na calada da noite do último dia 21 de maio, a demolição desses antigos Galpões, onde pretendem construir este empreendimento imobiliário, composto por 12 torres empresarias e residenciais, junto a margem deste mesmo Cais. Em protesto por esta abrupta iniciativa, ocorrido em plena madrugada, várias pessoas correram para lá e impulsionaram corajosamente a resistência contra aquela medida. Em seguida conseguiram impedir a demolição, com a ajuda de uma decisão judicial dada pela Justiça Federal, que suspendeu a referida obra, que também foi embargada pelo IPHAN no dia seguinte.

Ocorre que este empreendimento imobiliário, além de polêmico, já tem cinco ações judiciais que tramitação nas esferas estadual e federal, questionando essas obras e levantando suspeitas de várias irregularidades, que vão, desde a estranha aquisição por leilão, até o próprio processo de licenciamento, além da total ausência de participação popular em todo o processo. Mas mesmo assim, a Secretaria de Controle Urbano da Prefeitura do Recife, comandada pelo PSB, emitiu alvará de demolição dos armazéns para o referido Consórcio Novo Recife, já no dia anterior.
Além disso, o próprio Ministério Publico Estadual já havia aberto Inquérito para investigar inclusive o procedimento de aquisição, tendo então firmado um Termo de Ajustamento de Conduta com as Construtoras, que conforme recentes informações veiculadas, também não foram respeitados. Mais recentemente, foi também a vez do Ministério Publico Federal, de abrir inquérito para apurar a veracidade dos fatos.
Para a maioria dos manifestantes do denominado movimento “# Ocupem Estelita”, a luta contra o Projeto “Novo Recife”, simboliza uma luta contra a hegemônica das construtoras, na definição do modelo de desenvolvimento urbano que vem sendo atualmente implantado na capital pernambucana.
Na realidade, apesar das argumentações de recuperação de áreas urbanas degradadas, associadas a um “embelezamento” de antigas áreas, o que se observa é uma elitização de importantes áreas urbana do Recife. Na verdade, na maioria das vezes o que se constata é que este processo vem ocorrendo sobre antigos espaços públicos, que de forma pouco transparente e nada participativo, acabam sendo drasticamente privatizados.

Os manifestantes questionam ainda sobre a não realização de audiências públicas, a aprovação abrupta do projeto no Conselho de Desenvolvimento Urbano, o próprio processo de licenciamento, a ausência de estudos de impacto ambiental e social e a ausência de transparência na forma de aquisição desta área, que até à pouco tempo era essencialmente pública. Questionam também a própria destinação imobiliária, alegando que o empreendimento resultará na degradação ambiental, paisagística, histórica e arquitetônica da região.

Chama também a nossa atenção, um dos últimos fatos divulgados sobre este conflito, que informa que as referidas Construtoras teriam contratado para defende-las, um escritório de advocacia, que já teve como sócio o atual procurador geral do Estado e primo do ex-governador e candidato pelo PSB à presidência da República, Eduardo Campos. Se este fato se confirmar, tal situação é no mínimo insólita, pois além destas nebulosas relações, justamente a Procuradora Estadual que vinha investigando este caso, foi estranhamente afastada desta função no ano passado, por esta mesma Procuradoria Geral. 

Enquanto isso, Prefeitura do Recife, também do PSB, só após ser acionada pela Justiça Federal, irá avaliar o que foi derrubado pelo consórcio construtor.  Uma nova reunião foi marcada para esta quarta-feira, dia 28, na sede do MPPE, onde o consórcio construtor e a prefeitura deverão apresentar as respostas aos questionamentos dos manifestantes sobre o projeto. 

Neste cenário, há ainda uma serie de questões que precisam rapidamente serem esclarecidas, como o processo de transferência da titularidade de toda esta área, que é composta por galpões, armazéns e pátios, os quais ao longo dos anos foram usados por vários órgãos federais extintos, como o IAA e a RFFSA, tendo a área ficado posteriormente sobre a responsabilidade do SPU e do DNIT, para então só em 2008, justamente nas vésperas das eleições daquele ano, ter parte da área leiloada pela CEF. Porque? Estes tortos caminhos necessitam ser esclarecidos para todo o povo do Recife. Afinal, era uma grande área publica, bem no centro do Recife.

Pelos indícios que vão surgindo, uma coisa parece certa. Há nos céus do Recife, muito mais que apenas aves e aviões. Questionamentos não faltam; - Porque a demolição foi iniciada na sobra da noite?. - Como uma área publica se tornou uma área privada, sem a participação da sociedade civil?.- Quem esta decidindo hoje o Planejamento Urbano e Ambiental e o destino dos espaços públicos da cidade? - Porque uma área tombada e “sob judice”, recebeu alvará da Prefeitura para sua demolição? - Qual será o futuro da cidade do Recife, se este tipo de procedimento se tornar padrão?.- Só que detêm o capital determinará o formato do desenvolvimento do Recife? - E a tão falada sustentabilidade do Recife, como se dará?

Nesse sentido, venho parabenizar a todos que estão lutando por um Recife mais democrático e transparente e pelo respeito ao patrimônio público, construído ou natural. Diante de tantas interrogações, adianto que irei requerer imediatamente, informações sobre todo este nebuloso processo, ao DNIT, ao SPU, a CEF, ao IPHAN, a Prefeitura do Recife e aos demais órgãos públicos envolvidos neste episódio, belo bem da população guerreira do Recife.

Finalizo, solicitando ainda a Presidência desta Casa Legislativa, a divulgação deste pronunciamento na Voz do Brasil.

Sala das Sessões, 28 de maio de 2014

Deputado Fernando Ferro
PT/PE