terça-feira, 27 de maio de 2014

Dia da Mata Atlântica, O que Podemos Comemorar?

A Mata Atlântica ainda pede Socorro

Neste ultimo dia 27 de maio, tentamos comemorar no Brasil, o Dia da Mata Atlântica. Isso mesmo, tentamos comemorar, pois pouco vem sendo feito de fato no nosso País, para uma preservação mais efetiva, objetiva e integrada deste Bioma, com que possamos nos alegrar.

Pelo contrario, com as ofensivas que ruralistas e conservadores de plantão promovem para o desmonte da legislação ambiental, o cenário só vem se agravando. Vide o absurdo das recentes propostas em curso, para a alteração ainda em 2014, da legislação ambiental no estado de Santa Catarina. Lembrando que foi neste Estado, que em 2010 surgiram os primeiros ataques e as piores iniciativas políticas contra o antigo Código Florestal. O macabro enredo parece voltar à cena.  

Devemos lembrar que a nossa bela Mata Atlântica brasileira é formada por um conjunto de formações florestais e ecossistemas associados, como as restingas, manguezais e campos de altitude, que se estendiam originalmente de sul a norte do litoral brasileiro, por aproximadamente 1.300.000 km2, quando do inicio da colonização portuguesa no Brasil, ocupando parte do território de 17 estados do território brasileiro, desde o estado do Rio Grande do Sul até o Piauí.

Claro que é impossível falar do Bioma Mata Atlântica, uma das florestas mais exuberantes do mundo, sem usar superlativos para dimensionar sua importância e evidenciar a necessidade de sua proteção definitiva. Portanto, devemos aproveitar esta data para destacarmos a urgente necessidade de lutarmos pelo “desmatamento zero” também para a Mata Atlântica.

Devemos ainda ampliar a luta pela recuperação do que já foi degradado deste importante Bioma, inclusive pela ampliação do número de áreas protegidas como Unidades de Conservação, tanto públicas como privadas, assim como melhorando a gestão socioambiental daquelas Unidades de Conservação que já existem, além de lutarmos pela implantação dos Corredores Ecológicos da Mata Atlântica, pois a maior parte das áreas verdes da Mata Atlântica, que ainda restam estão isoladas, o que coloca em risco a sua biodiversidade.

Aliás, só para recordar, cabe aqui uma pergunta: “Como se encontra o Projeto dos Corredores Ecológicos da Mata Atlântica, o qual seria estratégico para a conservação da biodiversidade deste Bioma?” Foi concebido à anos para ser um projeto demonstrativo e estratégico para a preservação deste Bioma, o qual  deveria estar sendo implantado por meio de parcerias entre o Governo Federal e os Governos Estaduais.

Ressaltamos que mesmo reduzida e muito fragmentada, estima-se que na Mata Atlântica existam cerca de 20.000 espécies vegetais, o que equivale a 35% das espécies existentes no Brasil. Já em relação à fauna, os levantamentos realizados indicam que na nossa Mata Atlântica, existem mais de 2.000 espécies de animais, entre mamíferos (270), aves (849), repteis (200), anfíbios (370) e peixes (350), o que demonstra a riqueza de sua biodiversidade.

Estudos do INPE já apontavam entre 2011 e 2012, que o total de área de Mata Atlântica n Brasil, havia sofrido uma supressão de vegetação nativa de 23.548 hectares (ha), ou seja 235 Km². Destes, 21.977 ha correspondiam a desflorestamentos, 1.554 ha a supressão de vegetação de restinga e 17 ha relativo a supressão de vegetação de mangue, justamente em Pernambuco, mais precisamente em Suape.

No ano de 2013 não foi diferente, alias foi ainda pior, pois o índice de desmatamento continuou a crescer, chegando a representar uma área de 24 mil campo de futebol desmatados só neste ultimo ano.  Se somarmos o que foi desmatado de Mata Atlântica nestes últimos anos, teríamos uma área equivalente a área de 12 cidades de São Paulo. 

Infelizmente, hoje o que resta desta importante vegetação nativa está reduzido a menos de 9% de sua cobertura original. Somando-se as áreas de pequenos fragmentos de Mata Atlântica o índice soma apenas 12% da área original. Neste cenário, em relação a biodiversidade ,vale lembrar que cerca de 60% dos animais ameaçados de extinção no Brasil, dependem da Mata Atlântica para sobreviver.

Por isso, a região da Mata Atlântica deveria ser prioritária para a conservação da biodiversidade nacional e nossos governantes dos três entes federados, tanto no âmbito federal, como estadual e municipal, deveriam estar também desenvolvendo políticas publicas objetivas para a preservação deste Bioma, mas atualmente o que se vê claramente é que os órgãos públicos ambientais, em todos os níveis governamentais, estão sofrendo um grave processo de sucateamento, representando o maior retrocesso administrativo da Gestão Ambiental no Brasil, desde a Eco-92. Será que este importante tema para o futuro do Brasil, será tratado durante as eleições de 2014 ?.

Registramos também com tristeza que entre as unidades da federação, o maior índice de desmatamento vem ocorrendo justamente no estado de Minas Gerais, enquanto o Estado de Pernambuco é novamente um dos estados onde mais se desmatou manguezais.

Quando da chegada dos portugueses, o Estado Pernambucano possuía 18% do seu território coberto por esse bioma, mas hoje só restam cerca de 3%. Lembramos que as Convenções internacionais apontam a necessidade de preservação de ao menos 10% deste Bioma.

Além disso, entre as cidades de Pernambuco campeãs em desmatamento da Mata Atlântica, despontam lamentavelmente as da Região Metropolitana do Recife, como Itapissuma, Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca.

Temos também ciência de que a criação de áreas de proteção da Mata Atlântica avançou razoavelmente em algumas regiões nos últimos anos, principalmente com a implantação de unidade de conservação por governos municipais e com a criação de reservas particulares patrimônio natural, por iniciativa privada. Mas por outro lado, em estados como Minas Gerais, Piauí, Bahia, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Pernambuco, durante 2013, ocorreu justamente o contrario, o índice de desmatamento da Mata Atlântica só aumentou.  

Já em Pernambuco, as maiores agressões estão ocorrendo sobre as áreas de restinga e manguezais do litoral sul e norte do estado, principalmente nas regiões do Porto de Suape e de Goiana. Para se ter uma ideia da realidade em Pernambuco, das 41 Reservas Estaduais e das mais de dez áreas de Proteção Estuarinas de Pernambuco, criadas desde os anos 80, ou seja a mais de 25 anos, mais de  80% continuam sem regulamentação, sem Planos de Manejo, sem Conselhos Gestores e sem equipe ou chefia para a devida gestão socioambiental das mesmas, apesar das obrigações previstas na legislação ambiental.

Portanto, no que tange a preservação ambiental da Mata Atlântica neste estado nordestino, assim como nos demais estados vizinhos, estamos diante de uma contradição entre o discurso da sustentabilidade e a pratica pela protelação e maquiagem ambiental.

Neste contexto, outro exemplo de eminente e grave agressão a uma área de mata atlântica, também poderá ocorrer no Grande Recife, mais precisamente na Mata da APA de Aldeia-Beberibe, que é uma das maiores áreas de Mata Atlântica ao norte do rio São Francisco, pois esta área de preservação corre um grande risco de ser degradada, se não houver uma importante alteração no traçado no projeto de construção da Alça Viária do Arco Metropolitano do Recife, proposto inicialmente pelo Governo Estadual e que hoje inexplicavelmente, se encontra nas mãos do DNIT.

Mesmo nesse cenário, cabe lembrar que importantes instrumentos federais, para a conservação e recuperação ambiental na Mata Atlântica, foram aprovados na ultima década, como a Lei 11.428, de 2006, que dispõem sobre a Mata Atlântica, e o Decreto 6.660/2008, que regulamentou esta referida lei, mas suas normas, principalmente por falhas na fiscalização e na gestão ambiental, ainda não vem sendo devidamente respeitadas.

Além disso, a maior parte dos remanescentes de vegetação nativa, ainda permanecem sem a devida proteção, principalmente as áreas de restinga e de manguezais, que também fazem parte deste importante bioma, e que estão lentamente desaparecendo ou sendo degradadas, principalmente devido a projetos de urbanização e pela cínica especulação imobiliária.  

Portanto, é fundamental que haja um maior e real esforço integrado dos órgãos públicos ambientais, para que sejam implantadas políticas socioambientais efetivas e processos de gestão ambiental concretas, sempre com a devida participação popular. Inclusive, neste mesmo sentido, devemos fortalecer os sistemas ambientais nos próprios municípios e exigir que haja a devida implantação dos Conselhos Ambientais nestas cidades, para que possamos garantir uma maior preservação da Mata Atlântica.

Paralelamente, devemos parabenizar e incentivar a sociedade civil organizada, para que todas as instituições socioambientais do Brasil se unam cada vez mais, continuando a luta pela preservação da nossa Mata Atlântica e que passem a ofensiva contra as forças conservadoras e destruidoras do meio ambiente, em todas as trincheiras ecopolíticas que forem possíveis no Brasil. A luta ecológica é fundamentalmente parte da luta de classes.  


Matéria da EcosBrasil. Texto de Mauricio Laxe.