quarta-feira, 8 de maio de 2013

Uma ilha perdida no Recife poderá ser Destruida


 
O Recife preserva uma ilha completamente desabitada, entre a Ilha do Retiro e Afogados, bairros da Zona Oeste, e a poucos metros da avenida mais movimentada da cidade, a Agamenon Magalhães. Com 25 hectares e contornada por mangue, a Ilha do Zeca é a única da capital pernambucana sem qualquer tipo de construção. Lá, o visitante encontra apenas viveiros artesanais de camarão, uma imagem de São Francisco de Assis e campos de futebol para o lazer das comunidades do entorno, Caranguejo e Tabaiares.
Localizada no estuário do Rio Capibaribe, a Ilha do Zeca é considerada Zona Especial de Proteção Ambiental (Zepa) desde junho de 2003, por lei municipal. Com isso, fica proibida a construção de edifícios na área. Mas os pescadores que trabalham no lugar sofrem com o lixo acumulado no braço morto do rio. “A poluição é nosso maior problema, o lixo na água prejudica a produção”, diz José Elísio da Costa, 54 anos, um dos criadores de camarão.
“O lixo se acumula porque a prefeitura não abriu um trecho do rio que foi fechado. A água do Capibaribe entra e não tem como sair. Antes, o rio contornava toda a ilha e não havia esse problema”, diz o ambientalista Alexandre Moura. Há cerca de quatro anos, ele e o também ambientalista Alexandre Ramos articularam uma mobilização com moradores do lugar para tentar abrir o trecho aterrado. “Com isso, a área, que hoje é um istmo, ressurgiria como ilha”, destaca Ramos.
Conforme Alexandre Moura, a atual Ilha do Zeca surgiu de uma ilha natural que havia na região, modificada em função de aterros. “Ela nasce com a retificação deste trecho do Rio Capibaribe, na gestão do governador Marco Maciel (1978-1982), quando se cria o braço morto do rio para escoar água das cheias”, completa Alexandre Ramos, que fez estudos na Ilha do Zeca quando atuava na organização não governamental Fase. Na dragagem, viveiros de peixes de Joana Bezerra foram aterrados.
“Defendemos a preservação do local exatamente por ser a única ilha desabitada do Recife”, destaca Alexandre Ramos. Apesar de estar tão próxima da área central do Recife, a Ilha do Zeca é um local de difícil acesso. Não há sinalização e não há projetos para facilitar a visitação pública. Na avaliação de Alexandre Moura, é possível conciliar a produção artesanal de camarão com atividades públicas de lazer.
O investimento, segundo ele, não seria alto. Ele propõe melhoria na arborização, manutenção dos viveiros artesanais de camarão e dos campos de pelada, além de passeios de barco, que poderiam ser ofertados pelos pescadores locais. “O visitante poderia conhecer o cultivo de camarão e o trabalho dos pescadores, é uma área com potencial na cidade”, destaca Moura.
HERANÇA
Morador da comunidade Caranguejo, José Elísio da Costa disse que há 25 viveiros de camarão na ilha. Alguns ocupam 1,5 hectare. Ele trabalha no lugar há 45 anos. Começou com o pai, que tinha viveiros de peixes. “Herdei a atividade da pesca do meu pai e há dez anos mudei para o cultivo de camarão.” A ilha, diz ele, recebe água do Capibaribe e da Bacia do Pina.
José Elísio, conhecido como Dançarino, vende os camarões para bares, restaurantes e mercados públicos. “Ambulantes também vendem o produto, em carros de mão nas ruas”, diz. Ele espera cerca de 90 dias para que as larvas cresçam. Como complemento de renda, os pescadores retiram sururu na Bacia do Pina. Na época do estudo, em 2003, a Fase constatou que cerca de 150 famílias da comunidade Caranguejo e Tabaiares vivem do cultivo do crustáceo.

Crianças das duas comunidades brincam de bola nos quatro campos gramados e em outro de areia existentes no local. Um trecho da ilha guarda uma imagem de madeira São Francisco de Assis, protetor dos animais, encontrada boiando na maré por José Elísio. Garrafas de plástico, isopor e móveis velhos jogados no rio ficam represados na ilha, como podiam ser visto ontem, em plena Semana do Meio Ambiente.

Reprodução da publicação de 03.06.2009, do Jornal do Comércio – PE – Matéria de Cleide Alves.