domingo, 23 de junho de 2013

DESASOSSEGO DAS RUAS
               Jovens nas ruas protestando contra injustiça, corrupção, violência e políticos sociais, devem ser tratados como sinal de vida. A Democracia não é um regime do sossego, de harmonia plena. A democracia é um sistema de conflito de interesses e de suas mediações, portanto, nem podemos ver estas manifestações como a rebelião total, nem podemos desconhecer que algo está errado, algo está faltando.
O sentido geral do movimento não pode ser medido por ações de vandalismo de pequenos ou micros grupos, que radicalizados, aproveitam estes momentos para explodir suas intenções. O que começou com uma crítica justa ao sistema de transporte, que sendo público, é majoritariamente controlado por interesses e políticas de grupos privados, que juntos são responsáveis pelo preço caro e de um serviço de baixa, muito baixa qualidade do nosso sistema “Público” de Transporte. Mas, o grito toma outra dimensão, alertando-nos para as prioridades da sociedade brasileira, como a educação e a saúde que são de reconhecida deficiência.
            É importante localizar alguns episódios deste dia, um grito latente de parte da sociedade que desperta para seu justo direito de exigir melhor qualidade de vida, melhores políticas, melhores investimentos e avanços na cidadania. A tentativa de invasão do Congresso e de Casas Legislativas, dá sequência à outros episódios recentes, como a invasão do plenário da Câmara pelos índios, que protestavam contra a ameaça de alterar a política de demarcação de terras no Brasil, bem como no passado, a invasão do mesmo  ambiente pelos trabalhadores rurais do MLST e vários estudantes em 2006.
            Não estranho este novo episódio, mais cedo ou mais tarde isto iria acontecer. A agenda do Congresso tem sido as prioridades dos grupos econômicos, dos ricos do Brasil. Os interesses sociais estão sendo deturpados, como na criminosa legislação ambiental, pretendida pelos ruralistas, ou em legislações intolerantes e preconceituosas em relação a costumes e ou interesses religiosos. Este recado dado pelos jovens, ou melhor, este “conselho” dado pela juventude, é que deve ser ouvido pelas autoridades e por todos que tenham responsabilidade social e com a democracia.
            Os protestos contra as coberturas destorcidas das mobilizações, como os feitos principalmente pela Globo e seus seguidores, foi também um recado direto aos interesses dos (mercado) grupos econômicos, que tentam impor uma opinião e seus interesses contra a maioria da população. Outra variante destes gritos é a rejeição a presença de partidos nos atos. Há de fato um hiato entre partidos de esquerda e essa militância emergente, já os partidos de direita por natureza, tem sempre um desprezo pelo grito rebelde dos jovens.
O ruim nisso, é que partidos como o PT, não tenham estimulado a formação política, o debate e a temática da juventude, nas suas ações programáticas e na sua organização. Numa sociedade complexa e ampla como a nossa, nem todas as bandeiras devem vir de partidos. É na luta que surgem novos atores políticos, sociais, ambientais, de costumes e valores, etc. O recado está dado também contra os gastos públicos com a Copa e a prioridade dos gestores  públicos.
            Por isso é mais do que justo que a proposta de 100% dos royalties do petróleo para educação. Além disso, é hora do Congresso observar a agenda política e social de sua atuação. Também é bom alertar aos oportunistas que querem ver nestas mobilizações, espaços para desgastar o governo ou tirar dividendos eleitorais futuros. 
            Há uma onda contra a “Política” e ao mesmo tempo há um processo de politização da sociedade nesses jovens, que saem das redes sociais e ganham as ruas. Não devemos temer o grito das ruas!!! pelo contrário, devemos saudar essa geração que está debutando na militância e assumindo papel político e social, e ao mesmo tempo, está tendo o aprendizado das ruas de uma sociedade capitalista e sua luta de classes, seus conflitos e confrontos. Viva a rua, “a maior arquibancada do Brasil !!!”.
Autoria - Fernando Ferro - 18/06/2013