O Problema não é Pasadena, nos
EUA, e sim a Refinaria Abreu e Lima, em PE.
Por Jeb
Blount, Agencia Reuters Brasil.
– A compra
de uma refinaria nos Estados Unidos pela Petrobras, por 1,2 bilhão de dólares
virou tema de campanha eleitoral, com a oposição afirmando que a estatal pagou
20 vezes mais que o valor justo pela unidade no Texas e que Dilma Rousseff
errou ao aprovar o negócio quando era presidente do Conselho da empresa em
2006.
A
investigação, porém, está provavelmente mirando na refinaria errada: mesmo que
a Petrobras tenha pago caro pela refinaria de Pasadena, com capacidade para
processar 100 mil barris por dia, pode ter sido o melhor negócio em refino que
a petroleira já fez em pelo menos três décadas. O grande problema está na Refinaria
Abreu e Lima, em PE
Refinaria Abreu e Lima, Pernambuco
Sabe se
que a Petrobras não quis comentar sobre Pasadena, pois está conduzindo sua
própria investigação, mas José Sergio Gabrielli, que era presidente da
Petrobras na época da aquisição, disse nesta semana que a compra de Pasadena
foi “um grande investimento”.
Para
efeito de comparação, a saudita Aramco e a francesa Total construíram em Jubail
(Arábia Saudita) uma refinaria para 400 mil barris diários, por 10 bilhões de
dólares, ou 25 mil dólares por barril, menos de um terço do custo da Refinaria do
Nordeste, a RNEST. (A Refinaria do Nordeste é a Abreu Lima).
A chinesa
Sinopec planeja concluir no ano que vem em Guangdong, uma Refinaria para 200
mil barris diários, ao preço de 9 bilhões de dólares (45 mil dólares por
barril), quase metade do custo da Refinaria no Nordeste.
Em Port
Arthur (Texas), a Aramco e a anglo-holandesa Royal Dutch Shell gastaram 10
bilhões de dólares por uma refinaria para 350 mil barris/dia, o que também
equivale a um terço do valor em Pernambuco.
Em nível
mundial, refinarias novas para o processamento de petróleo pesado estão
custando “no máximo” 38 a 45 mil dólares por barril, segundo um consultor de
refino dos EUA, que trabalhou em refinarias da América do Norte, Oriente Médio,
América Latina e Ásia.
As
refinarias na costa norte-americana do Golfo do México, onde fica Pasadena,
geralmente lucram cerca de 10 dólares por barril refinado, segundo Margolin, da
Cowan and Company, e Alen Good, analista de ações de empresas de petróleo e
refino na Morningstar, em Chicago.
Com base
no desembolso de 1,2 bilhão de dólares, a Petrobras provavelmente conseguiria
reaver o investimento de Pasadena em cinco anos, segundo Good. Isso pode se
dever mais à sorte do que a um investimento inteligente.
Quando a
compra foi aprovada, em 2006, a Petrobras estava procurando formas de refinar
seu petróleo nos EUA, pois havia a expectativa de que esse país passaria a
comprar mais petróleo bruto do Brasil.
Desde
então, o boom do petróleo de xisto nos EUA aumentou a demanda pelo refino de
petróleo, tornando mais valiosas as refinarias na costa do Golfo.
A cifra
de 1,2 bilhão de dólares também pode representar um valor superestimado em
relação ao verdadeiro custo de Pasadena, já que o total incluía 595 milhões de
dólares em outros itens, como uma parte do estoque de petróleo da empresa Astra
já presente na unidade, além de multas e taxas legais. Good e Margolin disseram
que esses custos deveriam ser excluídos da avaliação da refinaria.
Quando
isso é feito, chega-se ao valor de 486 milhões de dólares pela Refinaria
propriamente dita, ou 4.860 dólares por barril, valor que poderá ser recuperado
em um ano de operação a plena capacidade. Ainda para efeito de comparação, 18
vezes menos que a RNEST.
“Faz
pouco sentido se comover com Pasadena quando você considera o que a Petrobras
está pagando mais pela capacidade de refino no Brasil”, disse Good. “Com esses
preços, faz mais sentido para a Petrobras comprar refinarias nos EUA do que
construí-las no Brasil.” Gabrielli também questionou a cifra de 1,2 bilhão de
dólares, alegando que na verdade a refinaria texana custou menos de 500 milhões
de dólares.
GASOLINA
POLÍTICA
Pedro
Galdi, analista-chefe da SLW Corretora, de São Paulo, disse que os investigadores
deveriam se voltar muito mais para a Rnest do que para Pasadena.
“Todas as
refinarias da Petrobras são, de alguma forma, fora da norma, e tenho poucas
dúvidas de que, se uma CPI for realmente instalada, isso vai aparecer muito
claramente”, disse ele. “Houve uma séria má gestão.”
A
refinaria Rnest surgiu de um acordo entre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da
Silva e Hugo Chávez, da Venezuela.
A ideia
inicial era que a unidade recebesse 60 por cento do petróleo do Brasil e 40 por
cento da Venezuela, numa demonstração de amizade internacional e como forma de
impulsionar a indústria regional.
Mas para
lidar com petróleo venezuelano, que é mais pesado e com poluentes tóxicos do
que o produto brasileiro, a Petrobras precisava de duas linhas de refino separadas,
e por isso foi preciso acrescentar instalações adicionais.
Funcionários
do governo já alertaram aos críticos de Pasadena que uma investigação mais
ampla poderá respingar sobre eles próprios. Pernambuco, afinal, é um Estado que
já foi governado por Eduardo Campos, ex-aliado e hoje rival eleitoral de Dilma.
(…)