Destruição do habitat contribuiu para ataques de tubarões em Pernambuco, dizem especialistas
A morte da
adolescente Bruna Gobbi após um ataque de tubarão, no último dia 22, foi o 59º
caso registrado no estado em 21 anos. A jovem paulista, atacada na praia de Boa
Viagem, no Recife, foi socorrida pelos bombeiros, mas não resistiu aos
ferimentos. As praias de Boa Viagem, com 24 ataques; e Piedade, em Jaboatão dos
Guararapes, com 17; são recordistas de ocorrências. Este ataque motivou a
recomendação do Ministério Público Estadual de interditar praias com risco de
ataques até a instalação de redes de proteção para os banhistas.
Segundo a
presidenta do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões
(Cemit), Rosângela Lessa, o desenvolvimento da região contribuiu para a
aproximação dos tubarões das praias. Com a construção do Porto de Suape, no
início dos anos 90, rios foram desviados e arrecifes implodidos. Uma das
espécies de tubarão foi diretamente afetada pela alteração de seu habitat. “O
tubarão Cabeça-Chata guarda uma grande fidelidade ambiental e usa a área em
todos os ciclos de vida. Ele encontrava uma barreira de salinidade e agora não
encontra mais. Então, ele continua procurando seus espaços”, explica.
Ela também
explica que os tubarões capturados são levados para outras áreas para serem
estudados. “Capturamos os tubarões, levamos a uma distância de 20 milhas, marcamos e os
soltamos. Assim, o comportamento deles é estudado. Esse monitoramento retira os
tubarões da área”.
Rosângela, que
também trabalha com dinâmica de populações de tubarões e arraias na Universidade
Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), ressalta a importância dos banhistas
tomarem os cuidados necessários. São 44 pares de placas colocadas ao longo da
área de risco. As placas orientam os frequentadores a evitar o banho em áreas
de mar aberto, durante a maré alta, e em áreas profundas, com água acima da
cintura.
O oceanógrafo e
professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mário Barletta, também
reforça que a poluição interferiu no comportamento dos animais. “Quando ocorre
a vazão dos rios, os peixes saem para a região costeira e, nesse momento, os
tubarões chegam para procriar. Com uma maior poluição dos estuários [local de
encontro entre o rio e o mar], essas espécies de peixes desapareceram. A única
coisa que aumentou foi a oferta de turista na praia”.
Ele lembra que a
área é naturalmente povoada por tubarões, e banhistas e surfistas são, muitas
vezes, confundidos com peixes e tartarugas, um alimento natural deles. O
professor destacou ainda os cuidados que os banhistas devem ter. “O tubarão
está ali, é um ambiente natural deles. Se passar dos arrecifes, a probabilidade
de levar uma mordida, ser atacado, é grande”, acrescentou.